No cenário corporativo contemporâneo, é comum nos depararmos com organizações que, à primeira vista, exibem todas as credenciais de sucesso: bons produtos, processos otimizados, metas ambiciosas. Contudo, sob essa superfície polida, muitas operam presas a uma complexa rede de ilusões, onde a incoerência estrutural mina silenciosamente sua capacidade de prosperar de forma sustentável.

Não se trata de má-fé ou incompetência, mas de um desalinhamento crônico entre aquilo que a empresa diz ser (sua cultura declarada), aquilo que seus líderes praticam (o comportamento efetivo) e aquilo que suas decisões realmente sustentam. O resultado? Uma cultura organizacional doente, onde o potencial é sufocado pela disfunção

As Ilusões que Geram Incoerência

Quais são essas ilusões que perpetuam a incoerência nas empresas? Não raro, manifestam-se como:

  • A Ilusão da Eficiência Processual: A crença de que a primazia reside unicamente em fluxos e sistemas, ignorando que processos devem ser caracterizados com o conceito “ponta-a-ponta” (quase nuca assim desenhados) e são mais do que meras ferramentas, são a alma da execução e até do direcionamento da governança. Mas sem a tal da inteligência comportamental, um componente novo na definição de processos pela ABPMP Internacional, o que deveria ser um facilitador torna-se um emaranhado burocrático, mentiroso, onde a energia é drenada em vez de direcionada.
  • A Ilusão da Liderança por Posição: A suposição de que o título confere automaticamente autoridade e capacidade de influência. Líderes tecnicamente aptos, mas emocionalmente instáveis ou comportamentalmente não desenvolvidos e incoerentes, geram equipes desengajadas, minando a confiança e a colaboração. Esta ilusão dá espaço para a implementação, mesmo que experimentalmente, da Holacracia.
  • A Ilusão da Cultura Imposta: A tentativa de “decretar” uma cultura a partir de valores expostos em paredes, sem que estes encontrem eco nas atitudes diárias e nas decisões estratégicas é uma doença cada vez mais recorrente no mundo corporativo. Qualquer rótulo de cultura vigente deve advir de um diagnóstico estruturado, o que normalmente é negligenciado pela grande maioria das organizações. O que se obtém é uma esquizofrenia organizacional, onde a verdade dita é desmentida pela realidade vivida;
  • A Ilusão do Diagnóstico Superficial: A tendência de atacar sintomas em vez de investigar as raízes profundas dos problemas caracteriza a falta de habilidade das organizações em realizar diagnósticos organizacionais ou de confundi-los com as famigeradas auditorias de sistemas de gestão. Desalinhamentos são rotulados como “problemas de comunicação” ou “resistência à mudança”, quando, na verdade, indicam falhas estruturais de comportamento e entendimento do que seria Primazia em Gestão.

 O Elevado Preço da Incoerência

Manter essa incoerência tem um custo elevadíssimo. Não é apenas financeiro, mas humano e reputacional:

  • Perda de Engajamento: Colaboradores se desconectam de uma realidade que não faz sentido, resultando em baixa produtividade, alta rotatividade e trabalho sem comprometimento;
  • Decisões Enviesadas: Sem clareza e coerência comportamental da liderança, as decisões tornam-se reativas, pontuais e desconectadas da visão de longo prazo;
  • Inovação Obstruída: Ambiências incoerentes geram insegurança, inibindo a criatividade, erradicando a cultura de experimentação e a capacidade de adaptação às demandas do mercado;
  • Erosão da Confiança: A discrepância entre o que se fala e o que se faz destrói a credibilidade interna e externa, tornando a empresa frágil diante de crises ou desafios.

A Solução: Coerência Intrínseca por Método

A solução para essa dissonância não reside em mais ferramentas ou em discursos motivacionais sensacionalistas. Reside, sim, em uma abordagem que desmascare essas ilusões, que instaure coerência intrínseca entre cultura, liderança e processo decisório. É precisamente nesse rigor, sustentado por referenciais de gestão exemplares como os REPG – Referenciais de Exemplaridade da Primazia da Gestão, que se encontra a capacidade de transformar intuição em indicador, desalinhamento em diagnóstico e cultura em ativo tangível.

Um compêndio de requisitos robusto como os REPG não apenas expõe a disfunção, mas oferece a estrutura para a reordenação metodológica e comportamental necessária. Isso exige lucidez, provocação estratégica e a coragem de confrontar o status quo para construir uma realidade corporativa verdadeiramente funcional.

Empresas que persistem nesta incoerência pagam um preço alto. O verdadeiro sucesso e a sustentabilidade exigem o abandono das ilusões e a coragem de construir uma estrutura verdadeiramente coesa, alicerçada em metodologias e referenciais que caracterizem um guia em busca da primazia.

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Por Orlando Pavani Júnior