Pode parecer estranho, mas é essa pergunta mesmo! Se cada um de nós acaba adotando algum “referencial moral” para submeter-se durante a vida, qual seria este “referencial empresarial” para as pessoas jurídicas seguirem? Qual seria a “bíblia” de uma empresa?

No âmbito das PF (pessoas físicas) é relativamente natural que adotemos um referencial moral para nos guiar:

  • Os cristãos (cerca de 30% da humanidade) adotam a Bíblia;
  • Os judeus (0,22% da humanidade) adotam o Torá;
  • Os muçulmanos (cerca de 24% da humanidade)  seguem o Alcorão;
  • Os hindus (cerca de 15% da humanidade) seguem os Vedas;
  • e assim por diante.

Só nestes 4 tipos de religião temos quase 70% da humanidade seguindo algum livro que resume o seu melhor referencial moral. Isto porque o ser humano precisa ter algum tipo de guia. Algo para servir como referência do que seria “condutas exemplares”. Até mesmo os agnósticos e ateus acabam adotando algum outro referencial para nortear suas condutas.

Porque a PJ (pessoa jurídica) também precisa de uma “bíblia”?

Sempre achei esta uma reflexão importante demais para ser negligenciada. Em outras palavras, seria pertinente, também para as empresas, adotarem algum referencial para nortear sua gestão?

Portanto, como heutagogista que sempre fui, em relação ao funcionamento das empresas, sempre me dediquei a “empacotar” conceitos e requisitos que pudessem servir como norte de uma gestão focada na primazia.

Em qualquer livro da vida que uma pessoa adote (Bíblia, Torá, Alcorão, Vedas, etc.), existem vários capítulos que são muito importantes para compor o livro final. Entretanto, estes capítulos não são um amontoado de conceitos separados que alguém juntou. Representam muito mais que isto! Prevalece um encantamento nestas obras que representam mais que a soma das partes.

As normas de gestão disponíveis no mercado (as ISOs da vida) representam alguns destes capítulos quando o foco são as empresas. Cada norma trata de uma aspecto relevante na gestão organizacional. Mas apenas juntá-las num único documento, não faria deste livro a Bíblia das Empresas.

As organizações precisam mais que um aglomerado de normas importantes. Elas precisam de uma espécie de “Bíblia” mesmo. Ou seja, elas precisam de um único “livro” que possa consolidar todos os aspectos relevantes para nortear qualquer liderança.

O primeiro exemplo de “Bíblia” para as empresas

O primeiro exemplo de algo semelhante, na minha opinião, foram os 14 Princípios do Dr. Deming. Certamente, uma espécie de “10 Mandamentos da pessoa jurídica”. Ou seja, difundia-se que, seguir com exatidão estes 14 princípios traria às organizações à era da Qualidade Total.

Seus fundamentos foram publicados pelo Dr. William Edward Deming (Out of the Crisis – publicado em português pela Ed. Futura em 2003). Uma curiosidade triste foi o título da primeira tradução desta obra no Brasil, em 1990 pela Ed. Marques & Saraiva: Qualidade – A revolução da Administração. Uma ridícula adaptação ao título original de Saia da Crise.

Em suma, esta obra de Deming foi considerada uma espécie de “Bíblia” empresarial para os xintoístas e budistas (religião de cerca de 120 milhões e 560 milhões de pessoas respectivamente) e demais religiões dos japoneses. Pois foi no Japão que estes 14 princípios foram disseminados e considerados “sagrados”. Certamente tão sagrados a ponto de se transformarem, por muitos anos, no principal referencial para reconhecer organizações que as implementassem com exemplaridade.

Consequentemente criou-se o Prêmio Deming (Deming Prize). Ou seja, um reconhecimento dado às empresas que demonstrassem que implementaram os 14 princípios com o máximo de completude possível. O reconhecimento que as empresas recebiam era uma medalha cunhada com o busto do Dr. Deming. Que se tornou quase um Deus vivo para as organizações japonesas.

A segunda iniciativa de “Bíblia” para as empresas

Enquanto o Prêmio Deming ganhava prestígio, foi o Dr. Joseph M. Juran que tomou a iniciativa de fazer o que, na minha opinião, foi o segundo exemplo de “Bíblia” organizacional. Acima de tudo, é bom que se frise, Juran foi um grande especialista que também ajudou muito o Japão a sair da crise após a segunda guerra mundial.

Embora tenha publicado muito mais, mas muito mais mesmo, que o Dr. Deming (que publicou apenas um único livro, sobre os 14 princípios), Juran não teve um prêmio com o seu nome no Japão. Sua contribuição foi relevante, ninguém discute, mas o bíblia que o Japão adotou não foram as obras do Dr. Juran e sim o único contributo de Dr. Deming.

Motivado por este desaforo, ele retorna a seu país de origem (EUA) e cria os 7 Critérios de Excelência do Dr. Juran. Uma simbiose dos “10 mandamentos” da pessoa jurídica também, mas agora com outras premissas, diferentes dos 14 princípios do Dr. Deming.

Da mesma forma que o número 14 representava para os xintoístas e budistas um número de forte cunho significativo, Juran adota o número 7 com o mesmo apelo. Ou seja, representa um número também, algo sagrado para os cristãos. Afinal de contas Deus criou o mundo em 7 dias, são 7 os pecados capitais, etc.

Estes 7 Critérios de Excelência das empresas foram adotados pelo governo dos EUA, a exemplo do que fizera o Japão. Como resultado, estes 7 Critérios deveriam se tornar no Prêmio Juran para organizações que os adotassem em algum grau. Um reconhecimento assemelhado ao que acontecera no Japão.

O trágico destino do Prêmio Juran

Mas não aconteceu exatamente desta forma. Curiosamente algo trágico aconteceu, para a tristeza do Dr. Juran!

Foi o Secretário de Comércio dos Estados Unidos do governo Reagan que defenderia esta tese junto ao senado americano. Tese de reconhecer empresas, a exemplo das iniciativas do governo japonês, tendo como “bíblia” os tais 7 critérios. Entretanto, o tal defensor, pouco tempo depois de aprovarem a iniciativa (1987), infelizmente faleceu, aos 65 anos de idade.

Como decorrência deste infortúnio, ao invés de chamar-se Prêmio Juran, acabou sendo chamado de Prêmio Malcolm Baldrige. Ou seja, o nome do tal secretário falecido: Howard Malcolm Baldrige Jr. Clique aqui e veja um vídeo onde explico esta história.

Outras “Bíblias” de empresas de outros países

Enquanto isto, a partir das experiências do Japão (Prêmio Deming, via 14 Princípios da Administração) e dos Estados Unidos (Prêmio Malcolm Baldrige, via 7 Critérios de Excelência) o mundo se mobilizou criando suas próprias “bíblias” de empresas. Veja alguns exemplos:

  • EFQM – Prêmio de Excelência Europeu da Gestão da Qualidade;
  • FUNDIBEQ – Prêmio Ibero-americano da Qualidade – FUNDIBEQ;
  • Reconhecimento Canadense de Excelência em Gestão;
  • Prêmio Francês de Qualidade e Desempenho;
  • Prêmio de Excelência Empresarial do Reino Unido;
  • para citar apenas alguns, pois em mais de 100 países existiram mais de 75 prêmios com base em algum modelo de referência.

Depois disso, o Brasil implementou, bem no início do governo Fernando Collor de Mello, em 1991, o PBQP (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade). Certamente este programa incentivou que adotássemos a íntegra do Prêmio Malcolm Baldrige para reconhecer as organizações brasileiras que implementassem os tais 7 Critérios de Excelência.

Traduziu-se, então, o documento norte americano e criou-se o PNQ (Prêmio Nacional da Qualidade). Este documento foi sendo atualizado ao longo dos anos, por uma série de profissionais abnegados. Estes, voluntariamente, contribuíram para criar o MEG, que desvinculou-se dos tais 7 Critérios de Excelência e adquiriram vida própria já em fins do século passado.

Eu tive a honra de poder participar ativamente desta iniciativa, desde 1997 até fins de 2015. Tendo contribuído para geração das 21 edições do MEG. Mas foi por não expressar mais o estado da arte da primazia da gestão e por ainda estar vinculado demais as “bíblias” do passado, que fui impelido a abandonar a primeira “Bíblia” de empresas brasileiras para criar a nossa.

Queremos nos candidatar a ser a “bíblia” da sua pessoa jurídica. Esta é a nossa pretensão!

Qual a “Bíblia” de empresas que propomos?

Nossa “Bíblia” organizacional chama-se REPG – Referenciais de Exemplaridade da Primazia da Gestão (baixe agora seu exemplar em PDF gratuitamente). Por outro lado, ele foi desenvolvido especificamente para ser aplicado em empresas prestadoras de serviços ao público (públicas, privadas ou do terceiro setor).

Trata-se de uma publicação que expressa 10 temas que todas as organizações precisam tratar com primazia. Sejam eles:

  1. Gestão por Processos;
  2. Indicadores e Análise Crítica;
  3. Desenvolvimento do Mercado e Relacionamento com Clientes;
  4. Holacracia e Cultura Organizacional;
  5. Atendimento das Partes Interessadas;
  6. Aquisição e Logística;
  7. Gestão de Pessoas;
  8. Liderança Transformacional;
  9. Arquitetura Estratégica;
  10. Gestão da Inovação e Transformação Digital.

O mais importante é que estes 10 temas subdividem-se ainda em 26 subreferenciais que expressam mais de 86 requisitos focados na Primazia da Gestão. Ainda contém 136 cuidados a serem tomados na sua implementação (baixe agora a apresentação institucional dos REPG). Sendo assim, eles foram incorporados como requisitos, forma estruturada, com base em mais de 66 livros de referência dos autores mais respeitados do mundo e mais de 18 normas.

Tudo está alicerçado para empurrar as organizações brasileiras a impactarem positivamente os 17 ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU). Com premissas que vão muito além do mero lucro.

Os REPG representam, mais do qualquer outro modelo de referência, o alinhamento com as tendências do século XXI. Estes serão capazes de trazer resultados sustentáveis para TODAS as partes interessadas e não apenas para o “doninho”.

E mais, aplicável a empresas de quaisquer tamanhos, pois, embora seja denso, permite aplicação gradativa em empresas pequenas, médias e grande, sem distinções. Cada uma com sua ênfase e com suas prioridades, mas todas focando em primazia da gestão. Assista ao episódio abaixo do Programa “P ao Cubo” e saiba um pouco mais sobre os REPG: