Eu assisto a série Star Trek (conhecida no Brasil como Jornada nas Estrelas) desde a infância. Este seriado marcou a minha vida. Assistia, e ainda assisto, com deslumbre.

O episódio piloto foi gravado em 1965, mas veio a público somente em 1966 (ano de meu nascimento). Portanto, minha história de vida coincide com o lançamento de Star Trek. Para resumir, os ensinamentos que os episódios me proporcionaram foram fundamentais para minha formação, tanto em primazia da gestão como nos aspectos comportamentais.

A história em torno da Federação dos Planetas Unidos (FPU), conta com 13 longas metragem de cinema (e vem mais por aí) e 12 seriados com tripulações e naves diferentes em períodos também diferentes. Estas 12 séries contam com mais de 42 temporadas e mais de 836 episódios gravados (e vem mais, muito mais, por aí também).

A FPU é uma espécie de holding das diversas empresas (naves) do “conglomerado”.

Além dos filmes, existem vários livros que retratam bem a importância e o refinamento dos conceitos e filosofias presentes nestes mais de 836 episódios ao longo destes 55 anos de existência. Clique aqui e veja um vídeo que eu fiz sobre os livros que eu recomendo vocês lerem para compreender melhor o legado de Star Trek.

A Holding “Federação dos Planetas Unidos” (FPU)

A FPU é uma instituição sediada no planeta Terra, em São Francisco/USA, com fins humanitários que explora (no sentido de aprender) a vida extraterrestre nos mais diversos planetas em todos os quadrantes do universo, indo onde nenhum homem jamais esteve. Ela foi fundada em 11/10/2161 (Século XXII) por membros de 4 planetas:

  • Andaria (lar dos Andorianos);
  • Tellar (lar dos Tellaritas);
  • Terra (lar dos Humanos);
  • Vulcano (lar dos Vulcanos).

Existe com o objetivo nominal de promover os valores da liberdade, igualdade, paz e cooperação entre seus planetas-membros (mais de 150). Seu principal braço de atuação científico, diplomático e militar é a Frota Estelar, com suas centenas de naves com tecnologias inovadoras (das quais muitas inspiraram tecnologias disponíveis hoje em dia) que estão distribuídas em todo o espaço sideral.

A FPU é um conglomerado muito maior e muito bem estruturado, a quem todas as naves se reportam. Mas pouco se valoriza esta estrutura ou os personagens e hierarquias pertencentes a ela durante os episódios. Quase sempre ela é muito mais lembrada pelas regras claras e pelas diretrizes filosóficas que emanaram. A estas diretrizes, todos se lembram e obedecem recorrentemente.

Os oficiais (como são chamados os membros da força de trabalho) obedecem a uma espécie de Constituição que define inúmeros deveres a serem seguidos. Um bom exemplo do teor destas diretrizes, que aparece em diversos episódios, é a Primeira Diretriz. Ela reza que é proibido a todas as naves e membros da Frota Estelar interferir com o desenvolvimento normal de uma cultura ou sociedade. Essa diretriz é mais importante do que a proteção das naves ou dos oficiais.

A Academia e os Oficiais da Frota Estelar

Estes oficiais tem uma missão clara em cada um dos papéis que energizam. Eles são preparados pela Academia da Frota (uma referência muito melhorada ao academicismo imperfeito do século XX) para energizarem diversos papéis com missões distintas, dependendo das circunstâncias que a missão da nave, onde ele esteja tripulando, exija.

Os episódios retratam as aventuras que se passam dentro de cada nave, com uma tripulação repleta de personagens de diversos planetas diferentes. Estas diferenças expressam, desde 1966, a valorização da diversidade entre as pessoas de uma equipe. O poder de exploração está na ponta, no caso, nas naves e em suas missões, e não na FPU que apenas entra em situações para deliberar onde as regras não estejam claras.

A hierarquia entre os oficiais nunca foi expressada, em nenhum dos episódios, com desenhos assemelhados aos organogramas clássicos. É claro que existe uma ordem de comando muito nítida dentro da nave, mas todos são responsáveis e autônomos para exercitarem as missões de seus papéis. Simplesmente inexiste a máxima de “comando e controle”. Ela é substituída pela máxima de “percepção de tensões e respostas resolutivas”. Muito parecido com a estrutura descrita na Holacracia.

A burocracia simplesmente não existe. As pessoas simplesmente falam as diretrizes e ordens e isto basta. O fato de tudo ser gravado o tempo todo nos diários de cada oficial é o considerado válido para que as diretrizes sejam assimiladas e acatadas. Uma estrutura sem memorandos, sem documentos assinados, sem relatórios escritos, tudo apenas gravado e basta.

A remuneração, o reconhecimento e o direito a propriedade

Outro detalhe importante. Neste período do tempo (a partir do século XXII) a humanidade já teria resolvido a questão da remuneração, do reconhecimento e do direito a propriedade, típicas do capitalismo clássico. Parece imperar uma ética diferente, orientada para o “acesso” e não para a “posse”. Algo parecido com o que chamamos hoje de Capitalismo Consciente, longe também do lado oposto, o Socialismo radical.

Lembre-se leitor. Estas circunstâncias da ambiência de Star Trek referem-se ao que se passa a partir do século XXII, mas Gene Roddenberry, seu criador, elaborou todas elas em 1965. Um cara realmente a frente de seu tempo!

Ninguém parece precisar mais de motivações extrínsecas, onde as pessoas fazem alguma coisa apenas esperando algum tipo de reconhecimento em troca ou fugindo de algum tipo de punição. O que impera entre os oficiais da Frota é a motivação intrínseca, algo que se faz pelo mero prazer de fazer (ler o livro Motivação 4.0 de Daniel Pink para compreender isto melhor).

Tudo que é material está acessível a quem quer que seja, sem precisar comprar. O dinheiro, como nós o conhecemos, simplesmente não existe em nenhuma das temporadas. Há um oficial médico que cuida preventivamente da saúde da tripulação em todas as naves. A cura das doenças acontecem com muita rapidez, dada a evolução tecnológica da medicina.

O conceito de Capitão e de Primeiro Oficial de cada nave

Todas as 12 séries tem diversos Capitães, todos icônicos, pois cada um tem seu estilo na liderança das missões de sua nave. Cada capitão tem a seu lado um chamado Primeiro Oficial que zela pela segurança de seu capitão e o substitui automaticamente na sua ausência.

Um dos primeiros capitães nos primeiros episódios em 1966 foi James Tiberius Kirk. Em sua missão de cinco anos comandando o U.S.S. Enterprise, James Kirk era um líder com estilo carismático e com alto poder pessoal demonstrando um profundo conhecimento de como manter uma equipe que consegue repetidamente, independentemente dos perigos enfrentados, resultados.

Seu Primeiro Oficial, um vulcano, foi mais icônico ainda: Spock (seu nome completo seria S’chn T’gai Spock) que transcendeu as diversas tripulações e talvez seja o mais famoso personagem da Frota Estelar. Baseado na sua lógica, típica dos vulcanos, ele demonstra alta inteligência e muita frieza em suas decisões.

Depois de Kirk/Spock vieram Picard/Riker, Janeway/Chacotay, Sisko/Kira, entre muitos outros em temporalidades diferentes. Todos com tripulações de diversos planetas compondo sua equipe de líderes de cada nave.

Muitas decisões dependem da anuência compartilhada dos energizadores destes dois papéis e, por vezes de outros papéis também. Este anuência é normalmente dada pela simples fala de códigos a partir de uma premissa dada ao computador central da nave. Quando todos os papéis dizem seu código, a ordem é executada pelo computador. Caso contrário, a premissa não é executada.

Isto demonstra que mesmo o Capitão sendo a maior liderança da nave, ele não tem autoridade para tomar, sozinho, todas as decisões.  Exigindo àquelas que impactem vários oficiais, o consentimento de outros papéis também. Ninguém aprova ou desaprova nada. O que existe é o que chamamos de TDC (tomada de decisão por consentimento), bem alinhada ao que a Holacracia também defende.

Palavra final sobre Primazia da Gestão e a série Star Trek

Como muitos que me acompanham já sabem, produzimos em 2019 os REPG Referenciais de Exemplaridade da Primazia da Gestão. Muitos dos conceitos ali expostos refletem as tendências organizacionais do século XXI, que seguem uma metáfora para alinhar-se ao que Gene Roddenberry conseguiu na ficção de Star Trek.

Assista este vídeo abaixo onde resumi os fundamentos desta conexão entre os REPG e a série Star Trek:

Quem consegue uma pontuação acima de 900 pontos numa Exploração (nome advindo da missão das naves da série), por meio do DCPG – Diagnóstico de Completude da Primazia da Gestão, ganha o estatus de Nave USS Enterprise, o último estágio de completude que uma organização pode chegar em relação a primazia de sua gestão.

De 10 estágios possíveis, os primeiros sete referem-se ao ambiente de água, a saber:

  • 00 a 099 pontos – Estágio Canoa;
  • 100 a 199 pontos – Estágio Barco;
  • 200 a 299 pontos – Estágio Catamaran;
  • 300 a 399 pontos – Estágio Lancha;
  • 400 a 499 pontos – Estágio Iate;
  • 500 a 599 pontos – Estágio Navio;
  • 600 a 699 pontos – Estágio Porta Aviões.

No oitavo estágio a organização sai do ambiente da água e alça voo numa outra ambiência, o céu:

  • 700 a 799 pontos – Estágio Avião.

No nono e décimo estágio, a organização extrapola o limite do céu e invade a estratosfera, indo, metaforicamente, onde nenhum homem jamais esteve:

  • 800 a 899 pontos – Estágio Foguete;
  • 900 a 1000 pontos – Estágio USS Enterprise de Star Trek.

Como conhecer mais a série Star Trek

Em seus muitos anos de serviço para a Federação dos Planetas Unidos, os diversos Capitães da Frota Estelar (Jonathan Archer, Christopher Pike, Michael Burnham, Gabriel Lorca, Philippa Georgiou, James T. Kirk, Jean-Luc Picard, Benjamim Sisko, Kathryn Janemway, etc.), com seus Primeiros Oficiais e toda sua Tripulação, encarnaram várias lições relativas a primazia da gestão que podemos usar em nossas organizações.

Ao seguir essas lições, podemos levar as nossas organizações em lugares onde “ninguém tenha ido antes”. Em outras palavras, sugiro que assistam esta série, pois ela pode ensinar muitas coisas sobre Primazia da Gestão. Clique aqui e acesse um dos sites mais completos, em português, de tudo sobre Star Trek.