Será que tem validade mesmo os diplomas que conquistamos em nossa vida acadêmica e as certificações profissionais que acumulamos em nossa vida profissional? Esta é a pergunta que este artigo se propõe a abordar.

Tenho defendido, seja ministrando aulas em cursos de pós-graduação por diversas instituições, seja proferindo palestras ou mesmo nas conversas informais com amigos e clientes, que não vale mais nada estampar os cursos que fizemos ou as certificações que acumulamos. Parece até que, quanto melhor a formação acadêmica, pior fica a inteligência comportamental.

O que valerá mesmo, é o que somos capazes de fazer com os cursos que fizemos e com as certificações que conquistamos, aliado aos resultados que obtivemos. Se não houver aplicação de todo o conhecimento acumulado, terá sido puro desperdício de tempo e dinheiro. É isto que a Primazia da Gestão vai nos exigir.

Num futuro próximo, o formato de um Curriculum Vitae, não será somente destacar todas as formações acadêmicas, cursos e certificações adquiridas, além das diversas ocupações que tivemos nas empresas em que trabalhamos. O que vai realmente fazer a diferença, será a capacidade de relatar, por meio de indicadores com métricas numéricas, os resultados que conquistamos como decorrência de todo este arcabouço de qualificações.

O foco apenas no conhecimento não basta, é necessário aprendizado efetivo

Quem me conhece, sabe o quanto eu valorizo o conhecimento acadêmico e a busca pessoal pelo aprendizado, principalmente por meio da busca de uma curadoria original e densa que seja capaz de comprovar (ou não) tudo que se fala por aí. As fake news exigem uma postura proativa de checar tudo de forma pessoal e não terceirizada.

A questão básica é, como rotulamos que uma pessoa detém o aprendizado efetivo sobre algum assunto? Será que adquirir um diploma ou uma certificação profissional atesta realmente alguma coisa?

Pela minha experiência, a resposta curta é NÃO.

Conheço uma grande quantidade de pessoas com formação acadêmica estruturada e com certificações diversas que nunca aplicaram o conhecimento adquirido, nem tampouco são capazes de relatar os resultados que obtiveram com o conhecimento adquirido. São pessoas rasas, superficiais, enganadores por meio da exposição de seus títulos.

O conhecimento deveria ser explorado em sua plenitude, mas infelizmente é tratado com amadorismo e superficialidade. E as instituições contribuem com esta deformação, pois nem sempre oferecem a oportunidade para a aplicação do conhecimento. Fizemos um vídeo (assista abaixo), num dos episódios do programa AnOTaí!, sobre o Método F.E.R.A. que explica bem o que entendemos como aprendizado efetivo.

Qual o problema dos diplomas como atestado do aprendizado efetivo

O diploma é, normalmente, o principal troféu de uma pessoa que frequentou os bancos acadêmicos. Não obstante, há uma diferença abissal de aprendizado entre diversos acadêmicos que conseguiram tal comenda. Uns conseguiram realmente aprender com foco na aplicação, outros apenas tiveram foco nas provas e no objetivo de “passar” para a próxima fase.

O histórico escolar seria um elemento com capacidade para distinguir o joio do trigo? Com certeza, o histórico escolar é uma informação adicional a ser consultada para distinguir o conhecimento entre um acadêmico e outro. Mas com certeza ainda não demonstra o aprendizado efetivo, que está focado na aplicação bem sucedida do conhecimento e não apenas no seu acúmulo.

Não me refiro a aplicação profissional e remunerada do conhecimento adquirido, pois na fase acadêmica este exercício profissional ainda não está autorizado. Mas do aluno ter a oportunidade de, ainda em ambiente acadêmico, aplicar o conhecimento adquirido (ou pseudo adquirido) de fato. Muitas pessoas que detém um diploma, sequer tiveram esta oportunidade ou, se tivessem, não lhe seria conferido o tal diploma.

Nesta linha de raciocínio deveria ser mandatório que todos os cursos disponibilizados em ambiente acadêmico, que profiram diploma, tenham uma etapa de aplicação do conhecimento adquirido e posterior avaliação.

Para alguns conhecimentos (disciplinas) temos exemplos desta etapa, mas que nem sempre interferem na disponibilização do diploma. São as feiras de ciências, olimpíadas de matemática, estágio monitorado (exceção feita quando tratado como mão de obra barata), residência médica, etc.

Estes exemplos acima são uma exceção a regra, infelizmente. A grande maioria dos diplomas dos cursos disponíveis (em todos os níveis: fundamental, médio e superior) não expressam a oportunidade de aplicação bem sucedida do conhecimento e, portanto, não atestam o aprendizado efetivo propriamente dito.

Qual o problema das certificações como atestado do aprendizado efetivo

Para alguns órgãos de classe profissional, para emissão da carteirinha profissional específica daquele órgão, que regulamenta a profissão decorrente de uma formação de nível superior (exemplo: CRA para o formado em administração de empresas; CRP em psicologia; CREA em engenharia e arquitetura; etc.), basta que apresentem o diploma, que já detém das imperfeições citadas acima.

Esta carteirinha é exigida como pressuposto formal e legal para o exercício oficial da profissão e exige filiação ao órgão de classe e pagamento das anuidades pertinentes. Nada mais correto na minha opinião. Mas deveria ser feita algo a mais, a exemplo do que acontece com o exercício da profissão de advogado. A OAB (ordem dos Advogados do Brasil) exige muito mais que a mera apresentação de um diploma, promove um exame complexo com questões relativas a prática do exercício da advocacia.

Há ainda as certificações independentes, que são oferecidas por outras empresas, como reconhecimento adicional a um profissional dotado de uma determinada competência específica (exemplo: Praticante dos REPG para o especialista nos REPG;  PMP para o especialista em Gestão de Projetos; CBPP para o especialista em Gestão por Processos; CMC para o especialista em Consultoria de Organizações; HCMBOK para o especialista em Gestão da Mudança; siglas diversas para o especialista em Coaching; DHBI para a pessoa que passou por uma transformação transpessoal, etc.).

Normalmente estas certificações requerem que o candidato faça algum curso correlato ao tema, cuja certificação é conferida, e submeta-se a alguma prova para avaliação da absorção do conhecimento. Nenhum problema até aqui. O problema é que nem todas requerem algum tipo de aplicação do conhecimento, e posterior avaliação, como requisito de merecimento da tal certificação.

Na minha opinião há duas vertentes a serem trabalhadas para a correção destes atestados: a melhoria dos processos de quem oferece os diplomas e as certificações e a correção comportamental de quem procura apenas os diplomas e as certificações fáceis.

O que fazer para atestar o aprendizado efetivo na vertente da oferta

Na vertente das escolas e das empresas de certificação independentes, que são as que fornecem diplomas e certificações respectivamente, a correção precisa ser na oferta, antes da consecução do merecimento do diploma ou da certificação, de oportunidades para aplicação do conhecimento adquirido. 

Ninguém deve merecer qualquer diploma (nível fundamental, médio ou superior) se não tiver sido aprovado na etapa de aplicação prática do conhecimento (letra A, de Aplicação, do Método F.E.RA.). Esta etapa não pode ser suprimida e precisa ser critério de recusa de merecimento dos tais diplomas.

Da mesma forma, nenhuma certificação poderia ser dada a alguém que não disponha de algum tipo de diploma acadêmico (levando em conta a correção descrita anteriormente) considerado pertinente. Por exemplo: uma pessoa que deseja uma certificação de Coaching, dada por uma empresa independente, não pode prescindir de alguma formação acadêmica considerada minimamente correlata.

Além ainda de que, esta empresa independente, ofereça também a oportunidade para aplicação do conhecimento, e que, seja alvo de avaliação antes do merecimento da certificação.

Não somos contra estas certificações independentes, principalmente se o mercado depositar acreditação nas mesmas para o bom exercício das competências a que se referem. O problema é que estão sendo conferidas a pessoas sem uma base acadêmica estruturada, (o que deveria ser um requisito, reitero) e que nunca aplicaram efetivamente, e com resultados, o conhecimento em que estão sendo certificados.

O que fazer para consertar a vertente de quem procura

Na vertente da correção comportamental das pessoas que procuram por diplomas e certificações fáceis, que são muitas, talvez a grande maioria, creio que a alternativa seja o impedimento legal do exercício do que o diploma ou a certificação confere. Somente assim as pessoas não vão aderir as escolas e as empresas independentes que oferecerem processos simples que não detenham de oportunidades de aplicação do conhecimento adquirido.

Na prática se constata uma tendência das pessoas, normalmente as mais oportunistas, a pular etapas para conseguir qualquer tipo de credencial que as autorize a exercer determinada atividade. As pessoas não querem apenas uma formação para que o conhecimento adquirido seja aplicado em suas respectivas profissões. Pelo contrário. Como nem sempre estas pessoas tem uma profissão, elas querem uma formação que as autorize a replicar a mesma formação em outras pessoas.

Esta demanda acaba criando seu próprio mercado. Um exemplo de prática largamente utilizada são as atividades de Coaching, que foram bastante banalizadas no Brasil. Muitas escolas prosperaram com soluções fáceis e rápidas de formação em processos de Coaching principalmente porque uma grande massa de pessoas, algumas sem profissão e outras sem qualquer formação acadêmica, sentiam-se “boas pessoas” e viram nesta tendência uma oportunidade para trabalhar em algo rentável. E o pior, é que conseguiram!

Além do impedimento legal, é preciso urgentemente conscientizar aos contratantes para saber distinguir os diplomas (com “d” minúsculo) dos Diplomas (com “D” maiúsculo) e as certificações (com “c” minúsculo) das Certificações (com “C” maiúsculo). Considerando o minúsculo sem o requisito de avaliação da aplicação do conhecimento adquirido e o maiúsculo com o requisito de avaliação da aplicação do conhecimento adquirido.

Eu próprio deverei abandonar algumas certificações que tenho. Principalmente aquelas que apenas exigem pagamentos de anuidade (caça níqueis) e as que não gozam de acreditação ou exigência legal pelo mercado.

O foco, seu e meu, deve estar em começar a adaptar o nosso perfil profissional do Linkedin (ou do curriculum vitae clássico), colocando também métricas que expressem os resultados que obtivemos com o conhecimento que adquirimos. Confesso que isto é um desafio, mas tenho convicção que é nisto que devemos nos concentrar.

Adm. M. Sc. Orlando Pavani Júnior