É ainda uma exceção as lideranças estarem focadas em compreender, sinceramente, o seu estágio atual em relação a Primazia da Gestão, para, a partir da adoção de algum referencial de exemplaridade, utilizá-lo como parâmetro de melhoria contínua.

Para mim, o advento das certificações está acabado. Totalmente sem valor e sem credibilidade. Da mesma forma, o advento de reconhecer organizações por meio de prêmios está fadado a sucumbir.

Muitas organizações se gabam por estarem certificadas em alguma norma de sistema de gestão, dentre as disponíveis no mercado. Seja a norma que for (quaisquer das ISO da vida), se for aplicada apenas para “fins de marketing” (para inglês ver, como costumamos falar) ou para “cumprir as exigências do cliente”, a probabilidade de ser uma falácia é bem maior do que você imagina.

Há um grande número de empresas premiadas em diversos prêmios (uns mais, outros menos, confiáveis) que são exemplos de crimes ambientais, exemplos de corrupção ativa ou ainda campeões de reclamações não resolvidas no Reclame Aqui. Reconhecer organizações é atributo insubstituível das partes interessadas e de mais ninguém.

Sobrevivem ambas as iniciativas (certificações e prêmios de gestão) por conta da falta de líderes transformacionais ou pela vaidade das lideranças doentes que ainda imperam num grande número de corporações.

Este artigo comenta a lamentável perda de credibilidade das certificações e da inadequação dos reconhecimentos de quaisquer natureza, além de fornecer alternativas para que esta situação seja corrigida.

Porque as certificações não expressam a primazia da gestão

Não são as normas propriamente ditas, com todos os seus requisitos, a causa do problema. Os requisitos sempre tiveram a nobre intenção de exigir o mínimo necessário para que a temática em foco da respectiva norma (qualidade, meio-ambiente, responsabilidade social, riscos, governança, suborno, etc.) existisse na organização. Mas se limita a isto, é o mínimo necessário e não o máximo possível.

A primazia da gestão está focada no máximo possível (estado da arte) e não no mínimo. Mas, estar certificado ainda não basta para assegurar que este mínimo necessário esteja realmente presente.

No lado das empresas que se propõem a conquistar e manter a certificação (seja ela qual for), normalmente a falta de engajamento do “doninho”, ou da famigerada “alta direção”, é recorrente desde que a iniciativa começou no século passado.

A certificação, que sempre acaba sendo conquistada (com maior ou menor merecimento), acaba exigindo um profissional, normalmente rotulado como da “área da qualidade”, para cuidar da certificação e da mobilização das demais partes (que deveriam ser interessadas) a cumprir os requisitos da norma. Este profissional acaba sendo o único guardião legítimo do que a norma foco preconiza, e que trabalha, solitariamente, para manter a enganação vigente e ativa.

No lado das empresas certificadoras e dos órgãos de acreditação (que dão acreditação às empresas certificadoras), a situação era bem melhor no século passado, mas hoje virou caso de horror. O nível de despreparo dos auditores (de terceira parte) é cada vez mais evidente e os exemplos de situações vexatórias das exigências destes auditores, nas auditorias, é digno de constrangimento. Muitos destes pseudo auditores nunca conversaram com profissionais da alta hierarquia e muitas certificações são conferidas a empresas cujos “doninhos” sequer foram auditados.

Porque os prêmios de gestão não expressam a primazia da gestão

Os critérios dos prêmios, que tem a premissa de reconhecer o nível da qualidade da gestão, sempre tiveram a intenção de definir diretrizes muito mais completas e mais exigentes do que os requisitos das normas continham. Sempre estiveram com foco no estado da arte.

No lado das empresas que os adotaram,  ser capaz de escrever um bom Relatório da Gestão (RG), submisso as regras do prêmio escolhido, acabou sendo fator crítico de sucesso, mesmo sem, necessariamente, que o texto expressasse a realidade.

Nas avaliações dos profissionais designados, pela organizadora do prêmio, para examinar a gestão in-loco, o foco era que os colaboradores entrevistados confirmassem a descrição do que fora escrito no RG.

Os especialistas no modelo adotado pelo prêmio, muito bem formados academicamente, muito melhor treinados e também muito mais experientes que os auditores das normas, tinham como fundamento confirmar, ou não, in-loco, aquilo que fora descrito do RG.

Se o foco fosse apenas pontuar as organizações avaliadas com vistas a melhoria gradual e evolucionário de sua pontuação ao longo do tempo, não haveria críticas de minha parte. Mas infelizmente não foi isto que se constatou.

A vontade dos “doninhos” em demonstrar publicamente que o reconhecimento aconteceu (com troféus, menções e outras insígnias), reconhecimento este avaliado por juízes (que nunca representaram as partes interessadas), na minha opinião, ao longo dos anos, foi deturpando completamente a essência dos critérios e sua aderência a realidade.

Outro fato que para mim também justifica a obsolescência da iniciativa de premiar é que, em muitas discussões para incluir requisitos mais exigentes nos critérios, requisitos até inovadores, mas presentes na academia, não foram sequer discutidos ou incorporados, pois, se fossem incluídos nos critérios, nenhuma empresa ganharia o tal do prêmio.

Deixou de ser uma expressão do estado da arte e sim um mecanismo passível de gerar algum tipo de reconhecimento.

A questão cultural e comportamental a ser foco de atenção para a primazia da gestão

Por esta pressão de ser certificado (numa norma) e/ou ser reconhecido (ganhar um prêmio), muitas empresas aprenderam a fazer teatros para os auditores despreparados, escrever excelentes RG (que em nada se correlaciona com a primazia da gestão) e a engabelar de forma auspiciosa os auditores e/ou avaliadores.

A alternativa para mim é subtrair estas duas alternativas do mercado e adotar possibilidades mais inovadoras que exigem mais consciência e, principalmente, mais inteligência comportamental.

O grande ponto é a necessidade de mudança da cultura organizacional, que ainda é tratada com muito amadorismo, e como decorrência disto, gerir a mudança de comportamento das lideranças. Fiz uma live específica sobre este tema. Assista abaixo:

Como consertar a deformação das certificações?

Com relação as certificações, defendemos abandoná-las do quadro de possibilidades e do orçamento anual. Mas como saber se as organizações estão, de fato, cumprindo os requisitos das normas adotadas? Se a certificação assegurasse este pressuposto, acredite, eu sequer estaria escrevendo este artigo e muito menos você o lendo!

Isto não quer dizer para abandonar as normas, muito pelo contrário. Elas são vitais como asseguramento do requisito mínimo. Mas a adoção da Auto Declaração de Conformidade, como prescreve a norma ISO/IEC 17050:2005 – Parte 1 e Parte 2, que já existe desde 09/2005, é uma excelente alternativa.

Trata-se da valorização da manifestação da própria organização em dizer que está aderente a determinada norma (quaisquer que sejam). Ou seja, prescinde-se da Certificação emitida pelos órgãos acreditados (que custa dinheiro) e se auto manifesta conforme e aderente aos seus requisitos. As Auditorias poderão (e deverão) ser feitas por aqueles agentes que desconfiarem desta auto declaração.  A empresa se abre a auditorias formais daqueles que representam alguma parte interessada, patrocinadas pelo estado (via órgão regulador) ou pela parte interessada.

Como consertar a deformação dos prêmios

Com relação aos prêmios, defendemos também que sejam completamente abandonadas do quadro de possibilidades. Mas como saber o estágio atual das organizações em relação a distância do estado da arte (que é o que os critérios dos prêmios sempre tiveram como foco)?

Com o hábito de executar, periodicamente, a exploração do estágio de completude a partir do referencial de exemplaridade adotado (seja ele qual for). Não em troca de prêmios, ou quaisquer tipo de reconhecimento, mas apenas para saber a pontuação obtida e melhorá-la continuamente ao longo do tempo.

Nós aqui da Gauss, criamos os REPG para ser uma alternativa aos prêmios, pois sua adoção não promete quaisquer tipo de reconhecimentos ou premiações. Apenas executamos explorações (nome que damos as verificações in-loco de como a organização exercita os requisitos dos REPG). Tais explorações geram uma determinada pontuação (0 a 1.000 pontos) que é publicada numa Plataforma de Benchmarking.

O objetivo da Plataforma de Benchmarking é permitir que cada organização encontre a sua pontuação dentre todas as demais organizações exploradas (sem saber quem é quem). Esta visualização é pública e gratuita e serve como fator inspiracional para superação e evoluções ousadas.

Como a Gauss operacionaliza as explorações com foco em primazia da gestão

Se você quiser saber o estágio de completude da primazia da gestão de sua organização temos duas alternativas:

Não queremos aqui desdizer a pertinência e a validade das normas e dos critérios dos prêmios, reitero. Ambos são fundamentais para a gestão exemplar e estão evoluindo muito bem ao longo dos anos. Minha crítica obstinada é com relação ao mercado de certificações (obsoleto e não funcional, além de se assemelhar a uma máfia) e ao mercado de premiações (uma deformação que precisa ser consertada).

Adm. M. Sc. Orlando Pavani Júnior