Para jornalista, a crise tem solução. “Passamos por um momento histórico de combate à corrupção”

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A jornalista e especialista em economia Miriam Leitão foi a convidada da palestra magna da edição 2016 do Congresso FNQ de Excelência em Gestão (CEG), realizado em 22 de junho, em São Paulo.

Em sua apresentação, que aconteceu no período da tarde, Miriam destacou a atuação da FNQ ao longo desses quase 25 anos de história, ressaltando que sua criação coincidiu com o momento de abertura de mercado e a necessidade de as organizações se prepararem para enfrentar a competitividade interna e externa com qualidade na gestão de seus processos. Enalteceu, ainda, o trabalho da Fundação em trazer para debate temas da vanguarda corporativa e da sociedade ao longo dos últimos anos.

Na palestra, a jornalista fez uma retrospectiva dos últimos governos, falou do momento atual e afirmou que, apesar da crise e das dificuldades advindas do cenário, o Brasil tem jeito. “Nenhum outro tempo de nossa história reuniu tantas condições favoráveis para nós quanto o século XXI”, afirmou Miriam. “Estamos vivenciando, verdadeiramente, a democracia”, completou.

Depois da palestra, Alexandre Caldini moderou uma sessão de perguntas da plateia. Na ocasião, a jornalista ressaltou a importância da população, dos valores, da biodiversidade, da terra e das fontes de energia renováveis no processo de recuperação da confiança nacional. Para a palestrante, devemos fazer escolhas sábias para nos recuperarmos da crise. “É hora de protegermos a população, investirmos em educação e pensarmos para onde queremos ir: ou nos acomodamos ou trabalhamos para superar esta fase difícil”, finalizou.

Panorama político e econômico – Miriam iniciou sua palestra trazendo um panorama do cenário atual do País. “A situação é grave sim, mas quero, aqui, ampliar o olhar no sentido da caminhada que temos pela frente”, disse a jornalista.

Para a palestrante, um dos grandes desafios é pensar no Brasil em um momento onde o governo é interino. “Ele pode durar até agosto ou até o fim de 2018 ou pode ter algum problema no meio do caminho. Temos uma comissão de impeachment em andamento e a composição dos ministérios é vulnerável por conta do cenário de denúncias”, comentou.

Miriam ressaltou, também, que o descuido com a inflação é perigoso, pois ela está diretamente ligada à questão da confiança no País. Contudo, destacou que em meio a um cenário adverso, muitos economistas estão otimistas e acreditam em um crescimento do PIB já em 2017.

Boa retrospectiva – na análise da jornalista, o Brasil tem mais altos do que baixos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). “Se considerarmos a história do País, são apenas três episódios recessivos de 80 para cá – nos governos Figueiredo, Collor e Dilma. O Brasil é resiliente”, destacou.

Miriam afirmou que o Plano Real fez com que o brasileiro se enamorasse da inflação sob controle, quando saímos dos dois dígitos em 1995.

“A FNQ nasceu no meio do Plano Collor, no momento em que o Brasil se abria para a nova agenda do mundo e a preocupação com a qualidade passava a fazer parte do dia a dia das organizações efetivamente”, disse Miriam. “E seguiu em frente! Está aqui, comemorando 25 anos”, pontuou.

O Brasil avança por consensos – de acordo com a palestrante, hoje vivemos uma crise institucional grave, contudo, as instituições continuam a funcionar. “O compromisso do Brasil é sempre com a democracia. Estamos passando por um estresse profundo, mas estamos superando com base em medidas democráticas”, afirmou.

Combate à corrupção – a jornalista destacou, em sua palestra, os novos padrões na relação público/privado, na redução da impunidade, nas novas maneiras de fazer campanhas eleitorais. “Com a Lava Jato, estamos buscando a lei para todos, acabando com privilégios e tratando todos de maneira igualitária perante a lei”, lembrou. Elencou, ainda, as consequências da Lava Jato. “Hoje temos uma elevação do patamar do risco de corrupção, mudanças estão atingindo fortemente o mundo corporativo, regras mais eficazes nas relações público-privadas estão sendo implementadas e passou-se a pensar além das regras de conformidade”, completou.

Gestão moderna – para Miriam, uma gestão moderna é uma gestão compartilhada, eficiente, que tem controle sobre seus processos e investe em compliance. “Em uma empresa que escolhe a corrupção como forma de gerir, a informação não circula, a gestão é ineficiente. Ela vai corroendo a organização por dentro. Com o tempo, a empresa começa a depender da corrupção e paga o preço das escolhas anteriores”, explicou a jornalista.

Desafios – Miriam afirmou que as empresas precisam pensar em como reorganizar seu negócio em um momento hostil da economia. “É preciso uma visão de longo prazo. O que eu controlo e o que eu não controlo? Tenho de atuar naquilo que controlo. É tão arriscado você não perceber um perigo quanto não perceber uma oportunidade”, destacou.

A jornalista afirmou que a sociedade também tem um papel fundamental na superação da crise. “Em todos os países estudados por mim sobre casos de corrupção, houve uma mobilização da população para combater os pequenos delitos na sociedade. Dinheiro para o guarda, o famoso jeitinho brasileiro, tem de desaparecer. Que país que você quer deixar para seus descendentes?”, questionou. “O capitalismo brasileiro tem de acreditar no capitalismo. Tem de ser capaz de não depender do benefício da vantagem, do lobby. O setor privado tem de se privatizar”, concluiu.

Futuro – questionada sobre o que falaria sobre o Brasil daqui a cem anos, Miriam respondeu: “Vai depender das escolhas que faremos. Gostaria de dizer que a sociedade deu mais um salto. Resolveu rediscutir a política. Que melhoramos o Brasil e a economia ficou mais forte. As empresas passaram a competir entre si verdadeiramente, sem corrupção. Aproveitamos a crise e melhoramos o País mais uma vez”, finalizou.

Fonte: FNQ
Site: http://www.fnq.org.br/informe-se/noticias/ceg-2016-miriam-leitao-traca-panorama-do-brasil-e-fala-sobre-a-importancia-da-gestao-compartilhada